
Quase cinco anos depois na TV aberta, o narrador da TV Esporte Interativo respondeu sobre sua carreira, seus times, sua família e sobre o projeto que comprou a ideia, além de não titubear sobre Mano Menezes e decidir entre Romário e Ronaldo. Confira a entrevista:
Carreira:
Fome de Gol: Jorge, dizem que, no Brasil, o sonho de ser narrador vem logo após o sonho de ser jogador de futebol. No seu caso, deve ter sido o primeiro, porque é um radiomaníaco. Como foi o início da carreira? Qual foi o primeiro jogo narrado?
Jorge Iggor: Primeiro e único... rs … desde muito cedo, ficou claro para minha família que gostaria de ser locutor esportivo. Era (e sou até hoje) muito ruim jogando bola, mas adorava narrar os jogos dos meus colegas. Em casa, como filho único, brincava sozinho. Armava os dois times na mesa de botão, jogava com os dois e fazia a narração. O mesmo acontecia com jogos de vídeo-game e totó (ou pebolim). E sempre gostei muito de ouvir rádio. Ali perto dos dez anos de idade, eu brincava de ser “dono” de uma emissora. Pegava um caderno, montava a programação imaginária e também apresentava meu programa no “estúdio” que montei no quarto.
O início da carreira foi no final da adolescência. De tanto ouvir rádio e procurar novas emissoras, descobri o fenômeno das rádios comunitárias. A gritante diferença de qualidade de som e programação entre uma emissora local e as grandes rádios me chamava muita atenção. Até que um dia descobri uma emissora num bairro próximo ao meu. Chamava-se “Cruzeiro do Sul FM”. Me enchi de coragem, liguei para a rádio e perguntei sem muito rodeio: “Vocês estão precisando de um narrador de futebol?”. O menino que cuidava do horário ficou meio assustado com a pergunta e pediu para que eu fosse até lá para conversar com o dono. Dois dias depois, eu estava lá. Me apresentei ao Sr. Sales (até hoje não sei qual era o primeiro nome dele) com um mirabolante projeto de transmitir as partidas do Campeonato Brasileiro. A ideia não empolgou muito, mas não fui descartado. Ele me ofereceu um quadro aos sábados e domingos para falar dos quatro grandes do Rio. Topei e fiquei lá por dois meses. Depois fui pulando para muitas outras emissoras comunitárias. Perdi as contas, juro. Até que, em outubro de 2003, um telefonema mudou para sempre minha trajetória: nessa época eu apresentava um programa matinal numa rádio da Abolição (bairro da zona norte do Rio de Janeiro) e, pouco antes de entrar no ar, recebi uma ligação do Paulo César Rabelo, chefe de esportes da Rádio Grande Rio, que fica no município de Itaguaí. Ele disse estar acompanhando meu trabalho há algumas semanas e me convidou para fazer parte de sua equipe. Quase caí pra trás! Finalmente estaria realizando o sonho de falar numa rádio AM. Mas não comecei narrando. Minha primeira função foi de repórter. Estreei num Juventude x Flamengo, dia 2 de novembro de 2003. Dias depois, narrei Cruzeiro x Paysandu, jogo do título brasileiro. Foi meu primeiro jogo narrado numa emissora AM.
Fome de Gol: Quais foram/são suas referências profissionais?
Jorge Iggor: Sou meio “tiete” de alguns narradores. Na TV, cresci ouvindo o Luciano do Valle. Lembro muito das Copas de 94 e 98, que assisti pela Bandeirantes. No rádio, minha primeira e maior “paixão” foi Fiori Gigliotti. Mesmo estando no Rio, as emissoras de São Paulo me atraíam bastante e o Fiori me encantava. Fui ouvinte dele até o triste ano de sua partida, em 2006. Também gostava muito de ouvir o Willy Gonser narrar os jogos do Atlético-MG na Itatiaia. Dos que estão em atividade, sou fã de carteirinha do José Silvério.
Fome de Gol: Desde que você se tornou um locutor esportivo, qual foi o melhor time que narrou?
Jorge Iggor: Não é pegando carona no momento, é realidade: o Barcelona atual é impressionante! O Esporte Interativo me proporciona narrar a grande maioria dos jogos do Barça e aproveito essa experiência ao máximo. Sou um privilegiado.
Fome de Gol: Qual foi / Qual é o seu maior sonho profissional?
Jorge Iggor: Tinha o sonho de me tornar locutor esportivo e já alcancei. Para o futuro, tenho o desejo de ver o Esporte Interativo chegar onde planejamos. Quero ter o gosto de participar de todos os capítulos dessa história. Sou fortemente ligado a esse projeto. Comprei a ideia. É minha segunda casa.
Fome de Gol: O projeto Esporte Interativo foi uma aposta no escuro, ou todos na equipe tinham a ideia de que a TV iria emplacar?
Jorge Iggor: Todos apostavam no sucesso, mas no fundo achavam os diretores meio “loucos”. Eles foram muito corajosos. Foram desaconselhados por pessoas influentes no meio. Os custos do projeto eram elevados e o retorno era incerto. Mas isso não tirou a ambição desses caras. Colocaram a TV no ar na marra, otimizaram os recursos e a coisa foi crescendo rapidamente. Serve de exemplo para muita gente que pensa em desistir assim que surge a primeira dificuldade. A história do Esporte Interativo é de superação e me inspira demais.
Qual foi o jogo mais marcante nestes quase cinco anos de Esporte Interativo?
Jorge Iggor: Me permita dois: Barcelona x Getafe, Copa do Rei de 2007 (gol antológico do Messi) e Barcelona x Arsenal, Liga dos Campeões temporada 2009-2010 (quatro gols do Messi e audiência estrondosa do Esporte Interativo).
Futebol:
Fome de Gol: As paixões pelo Botafogo e pelo Santos vêm de casa? Qual foi a maior alegria e a maior decepção com cada um deles?
Jorge Iggor: Pelo Botafogo vem de casa, graças ao meu avô e à maioria estrondosa de alvinegros. Pelo Santos veio de maneira espontânea e com a força do radinho de ondas curtas da minha avó, que me permitia ouvir emissoras de outros estados. Alegrias foram várias... a maior delas foi o título brasileiro do Santos em 2002. Chorei como uma criança. Decepções? Bom, com o Botafogo foi a final da Copa do Brasil de 1999. Minha casa parecia um cemitério, tamanha era a tristeza. Com o Santos foi o gol do Ricardinho no último minuto em 2001, numa semifinal de Paulista com o Corinthians. Foi facada no peito... rs
Fome de Gol: E o carinho pela Lazio? Surgiu como?
Jorge Iggor: O time campeão italiano em 2000 plantou a semente, mas ela só “germinou” mesmo depois de transmitir jogos do Campeonato Italiano. E ao conhecer a história do clube mais profundamente, a coisa cresceu de vez.
Fome de Gol: Este campeonato foi o mais emocionante da era de pontos corridos, como foi dito por muitos da mídia brasileira?
Jorge Iggor: Foi emocionante e só. Tem gente que confunde emoção com técnica. Muitos jogos foram sofríveis.
Fome de Gol: Estrutura ganha campeonato?
Jorge Iggor: Ajuda bastante. Os títulos recentes de Flamengo e Fluminense acabaram causando um certo mal nessa avaliação. Muitos aproveitaram o embalo para dizer que estrutura não importa. Pensar assim é enaltecer o atraso.
Fome de Gol: Acredita na máxima: “Tem coisas que só acontecem com o Botafogo”?
Jorge Iggor: E como acredito! O Botafogo é um clube meio louco. Quantas vezes já tive convicção de um título e ele não veio? E quantas vezes estava completamente descrente e ele me surpreendeu? Parei de tentar entender esse “fenômeno”...
Fome de Gol: O que explica essa volta pra casa de jogadores brasileiros e o mercado alternativo que os atletas brasileiros estão optando por jogar, como Rússia, Ucrânia?
Jorge Iggor: Essa coisa do mercado alternativo é interessante. Depende muito de como você projeta sua carreira. Se o objetivo é apenas financeiro, compensa. Sobre a volta para casa, ao mesmo tempo que é uma conquista dos clubes, ela serve para mostrar o quanto o nível do nosso futebol é baixo comparado com o que se pratica na Europa, por exemplo. Um coadjuvante lá fora chega aqui e resolve.
Fome de Gol: Como vê o trabalho do Mano Menezes até agora?
Jorge Iggor: Decepcionante. O primeiro ano foi jogado fora e o próximo corre o risco de ser muito mal aproveitado com essa história de Olimpíada.
Família
Fome de Gol: Pelo twitter, a gente observa que você é bastante caseiro. Na folga, é 100% família ou escapa para assistir algum jogo?
Jorge Iggor: Só assisto jogo pela televisão. Não gosto de frequentar estádio. O que se paga no Brasil é muito acima do que o espetáculo realmente vale. Além disso, a segurança é baixíssima. Pago um preço caro por assumir para quais clubes torço. Sempre tem um idiota metido a valentão e com a cara cheia querendo resolver na porrada. Uma vez ou outra, quando o jogo é de pouco apelo, levo o Gustavo ao Engenhão. E só. Agora... vejo futebol em casa o dia todo. Na folga, saio com a família normalmente, mas se estou em casa é certo que vou ver futebol. Não me desligo.
Fome de Gol: O pai já fez o Gustavinho botafoguense?
Jorge Iggor: Já. O garoto tem personalidade forte. Resistiu à todas as tentativas de parentes e coleguinhas de mudança de time. Ganhou um uniforme completo e joga futsal com ele. Fora isso, tem copo, prato, baldinho de praia e tudo mais que você imaginar com o escudo do Botafogo. O trabalho aqui em casa foi bem feito... rs
Fome de Gol: A Paola (esposa) gosta de futebol tanto quanto você?
Jorge Iggor: Não. Nem acompanha. Gosta do Flamengo, mas é daquelas que só assistem final de campeonato. Mas o melhor de tudo: nunca se incomdou com a quantidade de jogos que assisto. São oito anos convivendo juntos sem nenhuma reclamação. Às vezes rola uma queixa com o volume do rádio, nada mais.
Fome de Gol: Quem ataca na cozinha, Jota?
Jorge Iggor: Ela manda super bem, mas não tem muita paciência. Eu faço apenas o básico do básico: arroz, feijão e uma fritura. Nada elaborado.
Fome de Gol: No almoço de Domingo, quando não tem escala, o que não pode faltar?
Jorge Iggor: Strogonoff é unanimidade aqui em casa. Uma boa feijoada o amigo aqui também não dispensa.
Rapidinhas
Fome de Gol: Fla 81 ou Barça 2010?
Jorge Iggor: Não vi o Flamengo de 81 (nasci em 85), mas tenho a impressão que a posse de bola desse Barça atual é algo que ninguém jamais repetiu.
Fome de Gol: Quem foi melhor: Romário ou Ronaldo?
Jorge Iggor: Vi os dois. Romário disparado.
Fome de Gol: Mata-mata ou pontos corridos?
Jorge Iggor: Prefiro pontos corridos, mas mato a saudade do mata-mata nas copas nacionais.
Fome de Gol: Neymar ou Messi?
Jorge Iggor: Hoje, Messi.
Fome de Gol: Chaves ou Chapolin?
Jorge Iggor: Baita pergunta... Chaves, mas por um dedinho de diferença.
Dica Cultural
Fome de Gol: Pra fechar, Jota, qual Livro ou Filme você recomendaria para os amantes do futebol?
Jorge Iggor: Um filme que me chamou muita atenção foi “A Um Passo da Glória”. É de 2000 e conta a história de um manager de um time escocês que luta contra todas as dificuldades financeiras do clube. Briga para convencer o dono, que é americano, a não levar a equipe para outra cidade. E, num determinado momento, recebe como reforço seu próprio genro, que acabou gerando uma desavença entre ele e sua filha pela desaprovação do relacionamento. Filme bem interessante.