quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Acredite. Se quiser.

       E você: Acreditou? Você, torcedor do Galo, embalado pelo mantra, realmente acreditou que fosse possível a virada? Fato é que, mesmo que não tenha acreditado, você está vivendo os dois anos de maior glória do seu time. Assim como o botafoguense e o santista esnobam pelas décadas de 1950 e 1960, como o rubro-negro se estufa para contar a Deus e ao mundo sobre a década de 1980 e como os São Paulinos falam da década de 1990, você, atleticano, vai contar o que viu entre 2013 e 2014.

       Nós, de uma maneira geral, só percebemos a história quando nos distanciamos dela. Talvez por isso, você só perceba esta constatação daqui 10, 20, 30 anos. E vai se lembrar que um dia houve um time capaz de reverter um placar adverso por quatro vezes. Sim! Você vai se lembrar de que esteve em alguns - ou quase todos estes jogos - ao som do Eu Acredito, enquanto alguns duvidavam e outros desconfiavam. 

       A esta altura, pouco importa o jejum de 43 anos de Campeonato Brasileiro. Vai ver, você nem se lembrava disto. E tem todos os motivos para fazer de sua memória um campo seletivo de lembranças. Se uma lâmpada mágica aparecesse para você, atleticano, e o gênio realmente existisse, ele teria que dar um jeito, mas você pediria, certamente, outra vez Tijuana, Newel's, Olímpia, Corinthians e Flamengo. São dois a mais. Algo que seu time tem se acostumado a fazer. 

       Quando acabar o encanto, guarde cada momento na enciclopédia do seu cérebro para contar aos seus descendentes o que você viu. E, quer uma sugestão? Termine sempre com: Acredite. Se quiser. A chance de você reviver todos estes momentos será ouvida com: Eu acredito.

      

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Conhecer limitações para desconhecer limites - Parte 2

       Se o Flamengo deu uma lição de auto-conhecimento dentro de campo na última quarta-feira, a tarefa para o jogo da volta exige erro zero. Já muito longe da confusão, segundo Vanderlei Luxemburgo, o autor da ideia, o time perdeu duas peças fundamentais para o esquema: Léo Moura e Gabriel.
     
       As perdas só atenuaram as limitações rubro-negras com falta de velocidade no contra-ataque e vulnerabilidade defensiva. Nesta quarta, Luxemburgo deve encontrar uma formação equilibrada e jogadores experientes para não atacar muito, sequer defender em demasia.

       O técnico do Flamengo mostrou-se muito seguro ao entender a prioridade do clube e evidenciar que a diferença técnica pode ser igualada com a disposição em campo. Mais que isso, o saco de cimento, que ele cogitou trocar por açúcar, pode concretar a classificação calando gradativamente a massa atleticana. É difícil acreditar que, caso Éverton e Gabriel não joguem, o Flamengo busque alternativas de velocidade. Nessa condição, a bola passa - e fica - com Canteros enquanto o time se organiza.

       As limitações, de fato, parecem ser maiores. Parecem, se o torcedor do Flamengo se lembrar de que um limite - o maior deles na temporada - foi transpassado no fim de semana, quando o time não tinha boa parte daqueles que terá no jogo da volta.

       Conhecer limitações para desconhecer limites lembra título de auto-ajuda. Que é bem diferente de auto-conhecimento. Essa trilogia existencial tem seu capítulo amanhã, quando Anderson Daronco apitar o fim de jogo. Ou antes: Basta lembrar o que o último rubro-negro fez quando visitou o Mineirão.      

Conhecer limitações para desconhecer limites

       "Nosso pojeto continua sendo sair da confuxão, tá xerto?". Vanderlei Luxemburgo foi enfático na coletiva de imprensa e, desde que chegou ao Flamengo, tem priorizado pelo discurso simples, que soa como uma maquiagem do que acontece no vestiário, para jogar os tais sacos de cimento nas costas dos adversários. Sobretudo, nos melhores.

       O Flamengo de hoje tem um mérito: Reconhecer suas limitações e jogar em função delas. Em nenhum momento, foi um time de sufoco, intensidade e pressão na saída de bola no primeiro jogo da semi-final da Copa do Brasil. Pelo contrário, procurou não dar campo ao Atlético-MG, mas não se importou que o Galo ficasse com a bola, ainda que em seus domínios. 

       Apostando as fichas nas laterais, que contaram com atuações seguras de Léo Moura e João Paulo, o Fla foi mais incisivo. Nada que significasse um domínio evidente de jogo. Luxa outra vez optou por um time sem centroavante, prejudicando Eduardo da Silva, mas fortalecendo a primeira linha de marcação.

       Combatendo o ataque e distribuindo bem a bola na metade do gramado, o atual campeão se valeu disso para achar Gabriel antes de sofrer falta. Os mais exaltados pediram pênalti. No desenrolar da cobrança, Victor Cáceres, o jogador mais regular desde que Vanderlei voltou à Gávea, subiu e fez. 

       Luz vermelha. Em torno do Maracanã e na cabeça do treinador. Sai Canteros; entra Amaral. Mais que nunca, o Fla passou o recado: "Conseguimos o objetivo". Isso é feio? Não quando se tem um time feio, que, mesmo assim, se aproveita de lampejos. Gabriel deu cor à zaga atleticana. Só não se esperava que ele saísse dos contornos desenháveis até encontrar Josué, que fez falta de cabeça. Dentro da área. Chicão bateu e trouxe a vantagem. 

       Vantagem? As principais vantagens do Flamengo atual são o entendimento do que cada um pode render e a unificação do discurso. Todos os jogadores transmitiram a ideia que o "pofexô" tem na caixa dele hoje e que havia sido citado na coletiva. Palavras como "confusão", "prioridade" e "humildade" foram lições de casa. Assim como o resultado no Maracanã.