sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O 'Fico' de Hernane e uma lição para os homens da República

É inegável que um jogador se sinta mexido por ouvir 40 mil pessoas gritando 'Fica', antes, durante e depois do jogo. Mas a permanência de Hernane vai muito além da questão emocional, de dentro do campo, e chega na postura assumida pela diretoria rubro-negra desde o ano passado.
Ninguém é maluco o suficiente para, gerindo um clube com sérias dificuldades financeiras, aceitar uma proposta que traria aos cofres a bagatela de R$11 milhões aos cofres. O Brocador não é o suprassumo dos camisas 9 e todos, inclusive Bandeira e Walin, sabem disso. Daqui a pouco a fase pode acabar e os 41 gols uma temporada e 3 meses podem apenas ficar na memória.
Ou seja: a negociação tinha todos os fatores positivos para o clube e para o jogador, que receberia o triplo dos rendimentos na Gávea. Ou quase todos, pelo menos para a minoria dos dirigentes. Com os sinais dados, não seriam poucos, entre dirigentes que passaram pelo Flamengo, os que dispensariam Hernane do jogo da última quarta-feira e anunciariam com sorriso no rosto o êxito da negociação.
Entretanto, os carecas da gestão, acompanhados pelo dirigente jurídico de futebol do clube, Dr. Marcos Motta, se atentaram a um simples, mas imprescindível fator de sucesso em uma negociação: quais são as garantias de pagamento? Em que banco o Flamengo e os representantes de Hernane receberiam o dinheiro?
O Flamengo foi convicto ao dizer que só aceitaria liberar o atleta mediante a escolha de um banco americano ou europeu por parte do Shangai. Nada feito de lá, nada feito de cá.
A postura profissional do alto escalão rubro-negro só traz esperanças e episódios pontuais para que a torcida acredite que os bons ventos chegaram ao clube. Em outros tempos, pegariam o dinheiro para investirem em Elias e provocarem uma asfixia financeira maior que a atual.
Sobre a negociação, o Dr. Marcos Motta publicou no twitter na manhã desta sexta os motivos pelos quais o Flamengo recusou a proposta e a consequente venda do artilheiro:
"O clube chinês que fez a proposta pelo Hernane é péssimo pagador e faz parte da "lista negra" do nosso escritório. Opinamos pela não conclusão do negócio, que não apresentava, inclusive, qualquer garantia para as partes, Clube ou Atleta. A situação é diferente da proposta anterior de um clube do oriente médio. Naquela oportunidade o problema era o prazo - largo - para o pagamento. Sugerimos cuidado redobrado na China, Oriente Médio, Leste Europeu, Grécia e Turquia."
A explicação técnica do diretor jurídico do clube dá o tom da seriedade e da credibilidade presentes na atual gestão nestes quase 15 meses a frente do clube.
O 'Fico' do Brocador veio muito além de um Maracanã lotado. Veio de cabeças pensantes, gestoras e conhecedoras de mercado. Parece que a República - sim, embora não pareça - Federativa do Brasil precisa de aulas como essa.