Não faz tanto tempo, uma escola revolucionária mudou os rumos da história cultural brasileira. Avessa ao excesso de cuidados aos quais os parnasianos tinham com o texto, havia uma geração ávida por uma escrita mais livre da forma e consistente em conteúdo. O Modernismo, rompendo com a tradição em vários seguimentos, tomou conta do fim do século XIX, de forma que Oswald de Andrade, um dos líderes do movimento, deu origem ao adjetivo Oswaldiano, como o que contrapõe os limites da regra da boa escrita e do pensamento linear que predominavam na geração anterior.
Talvez encontremos semelhanças na consistente sequência do Flamengo Oswaldiano, iniciada dia 23 de agosto. Pouco preocupado com a forma global do sistema defensivo, o Oliveira se preocupou em agradar a massa, que clamava por um time menos formal, sem burocracia. Com novas peças, pode ter mais liberdade no conteúdo, com a criatividade de Alan Patrick e Ederson, juntos.
Tão rebelde quanto, foi a perceptível medida de tornar Márcio Araújo um falso terceiro zagueiro. Com a bola, é ele quem faz a saída, tendo boas opções pelos lados. Aliás, ambos têm funcionado com movimentação de meias e atacantes. Jorge, Everton e Emerson fazem a canhota, enquanto Pará, Canteros e Kayke compõem a direita. Apenas Alan Patrick faz a faixa central durante os minutos em que está em campo, contando com a recomposição dos meias pelos lados.
Há seis rodadas invicto, o Flamengo, de forma nada parnasiana, recuperou o sistema defensivo do meio-campo e fechou a torneira dos gols aéreos. Nos últimos 5 jogos, o time tomou apenas dois gols, ambos de pênalti.
Do Rio, palco de importante revolução modernista, Oswaldo mostrou ter DNA rubro-negro e que entende o som que vem das arquibancadas. Aliás, se emociona e pede por eles a cada partida. O Flamengo, tal qual o Modernismo, se esquiva da elite e encontra em razões populares o objetivo de luta, que, por ora, consiste em sempre mais um passo. Resta saber se, passo a passo, esse time será lembrado na história.