segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Um Flamengo Oswaldiano

       Não faz tanto tempo, uma escola revolucionária mudou os rumos da história cultural brasileira. Avessa ao excesso de cuidados aos quais os parnasianos tinham com o texto, havia uma geração ávida por uma escrita mais livre da forma e consistente em conteúdo. O Modernismo, rompendo com a tradição em vários seguimentos, tomou conta do fim do século XIX, de forma que Oswald de Andrade, um dos líderes do movimento, deu origem ao adjetivo Oswaldiano, como o que contrapõe os limites da regra da boa escrita e do pensamento linear que predominavam na geração anterior.

      Talvez encontremos semelhanças na consistente sequência do Flamengo Oswaldiano, iniciada dia 23 de agosto. Pouco preocupado com a forma global do sistema defensivo, o Oliveira se preocupou em agradar a massa, que clamava por um time menos formal, sem burocracia. Com novas peças, pode ter mais liberdade no conteúdo, com a criatividade de Alan Patrick e Ederson, juntos.

       Tão rebelde quanto, foi a perceptível medida de tornar Márcio Araújo um falso terceiro zagueiro. Com a bola, é ele quem faz a saída, tendo boas opções pelos lados. Aliás, ambos têm funcionado com movimentação de meias e atacantes. Jorge, Everton e Emerson fazem a canhota, enquanto Pará, Canteros e Kayke compõem a direita. Apenas Alan Patrick faz a faixa central durante os minutos em que está em campo, contando com a recomposição dos meias pelos lados.

       Há seis rodadas invicto, o Flamengo, de forma nada parnasiana, recuperou o sistema defensivo do meio-campo e fechou a torneira dos gols aéreos. Nos últimos 5 jogos, o time tomou apenas dois gols, ambos de pênalti. 

       Do Rio, palco de importante revolução modernista, Oswaldo mostrou ter DNA rubro-negro e que entende o som que vem das arquibancadas. Aliás, se emociona e pede por eles a cada partida. O Flamengo, tal qual o Modernismo, se esquiva da elite e encontra em razões populares o objetivo de luta, que, por ora, consiste em sempre mais um passo. Resta saber se, passo a passo, esse time será lembrado na história.  

terça-feira, 28 de julho de 2015

Visão de jogo: Chapecoense x Fluminense

       Em mais um jogo de bom público às 11h, Chapecoense e Fluminense se enfrentaram no Oeste de Santa Catarina, onde o time verde agora soma 19 dos 22 pontos conquistados. Mas, é bem verdade, poderia ter ficado sem os últimos 3, ou sem parte deles. 
       A zaga do Flu, lenta toda vida, deu a Bruno Rangel, o maior artilheiro da história do clube, duas chances similares no primeiro tempo. 50% de aproveitamento ao artilheiro, que chegou a 49 gols ao time Condá. 
      Se o setor defensivo deve às tantas, a movimentação de Gustavo Scarpa, Osvaldo, Marcos Júnior chamam a atenção no time de Enderson Moreira. O tricolor carioca propôs mais do que foi proposto e, dois minutos depois de Bruno Rangel, Edson foi muito feliz no chute. Não, na comemoração. O volante julgou ter falhado no primeiro gol do jogo e, por isso, saiu à Balotelli. 
       O Flu não parou por aí. Cruzamento de Scarpa, a bola passa por Fred e Marcos Júnior empurra com a mão para virar o jogo. Confusa, a arbitragem demorou e viu a irregularidade errada. Errou acertando, ou acertou errando???
       A movimentação cresceu com a entrada de Magno Alves no lugar de Fred, que sentiu um incômodo e, aparentemente, não quis forçar. Deve ter guardado para a aclamada estreia de R10. Criando sucessivas chances, o gol da virada parecia questão de tempo. Mas, logo o tempo, quando quase no fim, permitiu a última estocada da Chape no jogo. Pênalti discutível. Pelo local, não pela existência da falta. O problema é que a arbitragem também achou e demorou um 'desafio' para marcar, como comparou o técnico do Fluminense depois do jogo.
        Bola na cal, bola na rede. Bruno Rangel precisou bater Diego Cavalieri, que não saiu antes da cobrança e por pouco não garante o empate. Ao Flu, certezas e dúvidas: a de que o time está encaixado e promete brigar pelo G-4 depois de tanta desconfiança e a incerteza da reação e da relação do time com Ronaldinho Gaúcho. À Chape, o conselho de que talvez sejam necessários diversos pontos fora de casa, embora seja inegável o conhecimento do grupo por parte do bom Vinicius Eutrópio.

Data: 26/07/2015

Placar: Chapecoense 2 x 1 Fluminense

Melhor do jogo: Marcos Júnior

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ederson é o Camisa 10 dentro de campo. E fora dele?

     


       O Flamengo anunciou a contratação de Ederson nesta quarta-feira (21). O meia, que chegou à seleção jogando pelo Lyon, estava na Lazio e vem para vestir a já reservada camisa 10. Com um histórico de lesões, Ederson espera se firmar e voltar ao selecionado brasileiro. Prova disso é que existe um bônus contratual por convocações, além do salário de R$ 200 mil, segundo o jornalista Mauro Cezar Pereira, via ESPN Brasil.
      
       Se dentro de campo o Fla comemora o êxito nas negociações, fora dele os dias prometem ser conturbados. Com data para inscrição das chapas, só há uma certeza no processo eleitoral rubro-negro: Eduardo Bandeira de Mello, se candidato à reeleição, enfrentará um de seus ex-aliados de chapa azul. Afirmar um nome agora é faltar com a verdade ao torcedor, mas é consenso que a 'oposição' será encabeçada por Luiz Eduardo Baptista - o Bap - ou por Wallim Vasconcellos.
        
       O presidente da Sky e ex-diretor de Marketing do clube esteve no Bate-Bola da última semana e disse que há um acordo entre os azuis de que o atual presidente não se reelegeria. Agora, com a trupe dividia, a história é outra. Há, ainda, uma terceira corrente, defendida por ex-presidentes do Flamengo, cujo representante não fora definido, mas foge da modernização que se viu no clube nestes três anos.
       
       Fato é que a divisão prejudica o atual presidente no processo de reeleição e, ao que nos chega pelas notícias, muito em função da postura centralizadora adotada em momentos cruciais, como na discussão com a FERJ antes do campeonato estadual e na decisão em manter os jogos no Maracanã, tida, por muitos, como o estopim para a saída de Bap.
       
       Neste meio-campo do time eleitoral, a organização parece estar bem longe do sucesso ao qual todos os jogadores levaram o Flamengo fora de campo. Que dentro dele, Ederson dê a cadência e a qualidade a um time de contra-ataques, que, por isso, atua melhor fora que dentro de seus domínios.  

terça-feira, 23 de junho de 2015

Obrigado, Seu Mário!

       Seu Mário, talvez daí, de onde o senhor estiver, não seja possível perceber a dimensão do nome, mas se lhe fosse dada a oportunidade de caminhar pelo Rio hoje, certamente o chamariam de Senhor Maracanã.

Essa história de ser cronista rendeu, hein, seu Mário? Mas, provavelmente o senhor queria era estar em campo. Eu também. E no Rio! Não sei os motivos pelos quais o senhor não foi. Sei os meus. Talvez se eles não existissem, não seríamos Flamengo. Melhor nem pensar nessa possibilidade.

O senhor, então, inaugurou a crônica esportiva carioca. Dizem os maldosos, revestidos de números, que os gols de papel existem por conta dos gols do campo e, por isso, são mais fáceis. Sim! Opositores, concordo! São esses os gols que me fazem jogador. O meu campo? Algumas linhas, o senhor deve entender.

Quando estive no "Senhor Maracanã", agradeci especificamente ao pedaço do céu escolhido para envolver o anel. Oito anos depois, que consórcio, Seu Mário? A magia, transmitida também pelo rádio, estava ali: no casal que relembrava ao atento operador, os 200 mil presentes e frequentes nos anos 80, ou no pequeno Davi, que estampava o mais sincero sorriso. Ambos na fila. 

       Cronicar o jogo em uma tarde como a de sábado é ousadia. Arrogância, quem sabe. Gostaria mesmo é que o senhor e o seu Nelson, diga-se tricolor, estivessem no Maracanã, sendo o Maracanã. Obrigado, Seu Mário! Obrigado, Seu Maracanã! 

 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Que Cristóvão vem aí?

       Quando veio a notícia da demissão, ouvida durante o Linha de Passe na última segunda-feira, o primeiro nome à cabeça foi Cristóvão Borges. O baiano foi sondado pelo Grêmio, mas exigiu R$ 300 mil mensais e era questão de tempo para se aventurar no terceiro time carioca da carreira. 

     No primeiro, herdou a vaga de Ricardo Gomes - depois de um AVC sofrido durante um Flamengo x Vasco. Sob a desconfiança que paira sobre um interino, Cristóvão fez um trabalho equilibrado durante um ano. Parou em Cássio. Ainda assim, a passividade ainda não confirmava a postura de alguém à frente de um clube tradicional. 

       Antes de chegar ao segundo, parou na boa terra, a sua terra, para fazer um trabalho consistente no Bahia. A ponto de ser chamado nas Laranjeiras. E, se a imagem de interino o atrapalhou no Vasco, a relação Fluminense-Unimed o incomodou no Fluminense. Cristóvão ficou em segundo plano na guerra de vaidades dentro do clube, que ainda perdura. Pesa, ainda, como para todo o técnico, o relacionamento com Fred, o que não era tanto empecilho assim.

     Agora, menos de dois meses depois da saída, tem o desafio de assumir o Flamengo. Nada de interino, muito menos de relação patrocinadora-clube, Cristóvão terá a chance de, em um clube grande, mostrar as caras e justificar a modernidade pela qual fora tão elogiado desde o primeiro trabalho. 

Dentre as opções, o Flamengo buscou oxigênio no comando e nas finanças. Só o tempo se encarregará de mostrar o quanto a diretoria sabe ou não sabem nada de futebol, mas a aposta é válida. Sobretudo, quando o que se paga seja a resposta: Que Cristóvão vem aí?

terça-feira, 26 de maio de 2015

Vanderlei e a contracultura nem tão brasileira assim

       "A longo prazo, Luxa não tem rendido. Seria ele um bombeiro?". Há exatos 11 meses e dois dias, o blog resolveu listar prós e contras da contratação de Vanderlei Luxemburgo, demitido na noite desta segunda-feira, após reunião do Comitê de Gestão do Flamengo e o prognóstico se confirmou. 

       Deve ser discutida a decisão da diretoria rubro-negra, que deve completar nos próximos dias, 6 técnicos em 30 meses. Entretanto, o time de Vanderlei, encorpado e determinado a sair da tão falada zona da confusão, não apresentou padrão de jogo algum nos quase 30 jogos apresentados até então. 

     Ninguém discute a capacidade de Luxa, mas condenar a decisão é o mesmo que exigir um exercício de futurologia. Mantém o técnico com um time do qual ele já parecia não conseguir total rendimento, ou demite na 3ª rodada para oxigenar o grupo? Como o "pofexô" gosta de ressaltar nas coletivas, "Isso pertence ao futebol."

       O todo-poderoso Real Madrid fez o mesmo exercício de demissão horas antes, consta-se, com o time eliminado na semi-final da principal competição do mundo e apenas há dois pontos do Campeonato Espanhol. Com o agravante de ter sido campeão com o mesmo Carlo Ancelotti na última temporada. "Pertence ao futebol?"

       É cada vez mais difícil, sobretudo no futebol brasileiro, traçar a tão ideal filosofia de jogo. Não seria arriscado dizer que ela representa a contra-cultura do esporte mais apaixonante por aqui, mas não está muito longe de quem trata o futebol como negócio - e bem-sucedido. 

       Luxa, panoramas a parte, rotula-se, cada vez mais, como um técnico a curto prazo e a longo preço. O Flamengo deve muito a ele nesta quarta passagem. Mesmo que desta vez não estejamos falando sobre multa rescisória. 
       


segunda-feira, 20 de abril de 2015

A presença da suspeita e a ausência da credibilidade

       Já se passaram mais de 24 horas da eliminação rubro-negra no campeonato carioca. E nenhum flamenguista pode dizer que seu time atuou de forma minimamente convincente durante os 180 minutos das semifinais do torneio estadual. Pelo contrário: um time moroso, estático, por vezes, imóvel.
       Logo, a eliminação foi merecida. Foi? Teria sido se o adversário mostrasse maior superioridade técnica para ganhar o confronto. Teria sido se, desde o início do campeonato, não presenciássemos episódios desde a primeira rodada. 
       Reuniões aqui, atas ali, medidas arbitrais - e arbitrárias - acolá, o carioca 2015 nasceu sob suspeita e cresceu sem credibilidade. Que os erros são circunstanciais, isso "pertence ao futebol", como gosta de dizer o treinador rubro-negro, Vanderlei Luxemburgo. Entretanto, quando os erros se repetem em várias rodadas, contra diferentes clubes, a favor de um dos - o principal - aliados da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, a classificação fica manchada. 
       Embora o rubro-negro não tenha demonstrado um bom futebol, a falta de gols no Maracanã daria a classificação ao time da Gávea. Assim, o histórico do presidente cruzmaltino e a proximidade dele aos caciques do futebol estadual endossam a hipótese de que, sim, houve um favorecimento premeditado.
       Cabe ao clube manter a postura "rebelde" que resultou no desrespeito, dentro e fora do ar, à instituição Flamengo e ao seu presidente, por parte do presidente Rubens Lopes. Aliás, a dupla Fla-Flu tem uma oportunidade histórica de fundar uma liga ao lado de outros clubes que já demonstraram interesse em seguir o mesmo caminho.
       "Vencer, vencer, vencer" não está atrelado apenas aos resultados de campo, mas ao que é feito, principalmente bem feito, fora dele.